Aguarde por gentileza.
Isso pode levar alguns minutos...

 

Brasília que não dorme

Enviado por Gilberto Godoy
brasilia-que-nao-dorme

    Ir ao salão, ao supermercado ou até malhar na madrugada já não é tão estranho para os brasilienses. Conheça alguns serviços que funcionam 24 horas. Apesar de todos os clichês que dão fama a Brasília – um dos mais famosos é que esta não é uma “cidade de verdade” –, não é preciso se esforçar para encontrar evidências de que a vida na capital se desenvolve como nas outras metrópoles, ainda que com algumas peculiaridades.

     Como em outras grandes cidades, em Brasília sempre se está indo ou vindo de algum lugar ou compromisso, por exemplo. Além disso, os moradores do Distrito Federal (hoje mais de 2,6 milhões de habitantes) também enfrentam longas jornadas de trabalho e penosas horas no trânsito. No fim do dia, um pensamento vem à cabeça da grande maioria: as 24 horas do dia não são suficientes para fazer tudo o que foi marcado na agenda.

     É por isso que recentemente a capital tem visto uma série de estabelecimentos e serviços funcionarem em horários que atendem a esse público cujo tempo não cabe no horário comercial. A primeira mostra do mercado 24 horas apareceu por aqui na década de 1990 com os supermercados, na região do Cruzeiro. Logo depois, uma série de lanchonetes invadiu as ruas do quadradinho para atender os jovens que saíam famintos das baladas. O início foi modesto, com a informalidade das carrocinhas de cachorro-quente nas quadras da Asa Norte e Sul, e só depois delas que chegaram às redes de fast-food. Quando tem demanda, Alexandre Nasiasene prefere trabalhar em um escritório colaborativo tarde da noite: "É bem melhor que home office", diz

     Os serviços ficaram mais requintados e, em 2014, Brasília dispõe de salão de beleza, academia, lava a jato e até escritório de coworking com horário alternativo. A especialista em marketing Soraya Lacerda acredita que esse mercado tende a crescer. “Ao contrário de São Paulo e Nova York, que são metrópoles mais antigas e com uma grande concentração populacional, Brasília ainda é uma cidade muito nova. A capital está crescendo e caminhando para atingir um número de pessoas que justifique essa demanda dos serviços 24 horas”, observa.

     Para ela, ainda há diversos nichos de mercado a serem explorados, mas é preciso habituar a população para usufruir dessa comodidade e preparar a cidade para isso. “Segurança pública e de qualidade é um ponto importante que beneficia e incentiva tanto quem quer investir nesse tipo de negócio quanto quem quer consumir produtos e serviços a qualquer hora do dia ou da noite”, pontua. 

     Velma Almeida trabalha em uma drogaria durante o dia. À noite, cuida da casa, das roupas, faz comida e dá atenção ao marido. Ela também o ajuda nos negócios da família. “Mas quando cuido de mim?”, questiona a moradora de Águas Claras. Quando sobra tempo, ela diz, já passa da meia-noite. É nesse horário que ela recorre ao Salão de Beleza 24 horas. “O nome é simples assim porque é isso que o salão é. Esse é o grande diferencial”, acrescenta André Bruno de Lucca, o proprietário.

     Ele costuma atender Velma pelo menos uma vez por semana por volta da 1h, quando ela está livre das responsabilidades com o marido e com a casa. “No entanto, já cheguei a vir aqui às 3h para retocar as mechas”, conta ela, assegurando que descobrir o salão foi uma providência perfeita. Florência de Andrade recorreu a um lava-jato 24h para não atrasar a viagem: salvação da pontualidade

     Embora já exista há pelo menos seis anos, o salão de André Bruno funciona em sistema 24 horas há apenas um semestre. O empresário conta que a ideia surgiu quando ele percebeu que uma quantidade razoável de clientes o procurava depois das 22h. Outros precisavam dos serviços muito cedo, lá pelas 5h. “Então me coloquei à disposição. Basta que o cliente marque que o salão abrirá para ele”, diz. A maior parte das pessoas que buscam os serviços durante a madrugada são mulheres que passam o dia inteiro trabalhando ou ocupadas com a família. Geralmente têm viagens marcadas para o dia seguinte e precisam, por exemplo, arrumar as unhas ou fazer uma escova de última hora.

     A estudante Joyce Bomfim gosta de passar no salão depois da faculdade. “Saio por volta das 22h40 e chego aqui umas 23h30. Dá tempo de fazer alguma coisa no cabelo e ficar mais bonita antes de sair para a balada”, conta a jovem. O cabelereiro só vê vantagens em manter o salão em tempo integral. “A cliente paga o que eu cobro. Não tenho concorrência”, frisa o empresário.

     Do outro lado da cidade, no Eixo Monumental, o servidor público Leandro Pinheiro também encontra tempo pra se cuidar. É na madrugada que ele frequenta a academia 24 horas World Gym. “É o horário que dá para mim”, justifica ele enquanto maneja alguns halteres por volta da 1h. Além de muito ocupado, pois trabalha também com cinema, Leandro se considera uma pessoa noturna. Conta que vai dormir, diariamente, às 3h e acorda às 7h30. Quando não consegue completar o treino diário, passa o dia sentindo-se indisposto. A professora de educação física Lígia Gonçalves dos Santos Oliveira conta que a partir das 4h a academia frequentada por Leandro começa a ficar mais cheia.

     São pessoas que moram próximo ao edifício Brasil 21, onde o centro de exercícios está localizado. “Elas entram no trabalho muito cedo e, por isso, acabam acordando antes para vir malhar. Outras sentem insônia, e o exercício ajuda a relaxar. Há também um público que viaja e sofre com o efeito jet lag (fadiga causada por mudanças bruscas de fuso horário)”, completa Lígia. Leandro Pinheiro costuma dormir às 3h e acordar às 7h30: "Treino na academia por volta da 1h para me sentir bem disposto durante o dia"

     A professora destaca que para treinar à noite é preciso manter uma alimentação equilibrada. “Quem malha nesses horários costuma vir com lanchinhos e suplementação. Até porque, muitas vezes, sai daqui direto para o trabalho”, observa.

     Se muitos brasilienses aproveitam a madrugada para cuidar da aparência e da saúde, outros usam esse período para trabalhar ou resolver imprevistos de última hora. O empresário Alexandre Nasiasene “desde sempre”, como ele mesmo define, teve “horários muito loucos”. Um dos projetos que ele tem atualmente envolve o desenvolvimento de lojas virtuais, e não são raras as vezes em que ele e a equipe precisam virar a noite trabalhando nos empreendimentos online. Então ele conta com o Espaço Multiplicidade de Coworking, um escritório colaborativo na 702/3 Norte que fica aberto até a hora que o cliente necessitar.

     “Eu já experimentei o home office, mas, muitas vezes, a família fica incomodada com a movimentação ou as luzes acesas. Além disso, nem sempre é conveniente ou há espaço para receber várias pessoas em casa. É preciso imersão no trabalho”, diz Alexandre. Ele relata a experiência de um colega que após um longo período trabalhando em home office acabou ficando sedentário demais e passou a descuidar também da aparência. “Quando ele foi estimulado a sair para trabalhar em um espaço colaborativo, ganhou mais ânimo e, inclusive, vaidade.” O local oferece infraestrutura completa, com banheiros, pufes para descanso, uma copa e suporte para eletrônicos, tais como computadores e notebooks.

     A professora Florência de Andrade costuma viajar de carro com a família nas férias escolares e feriados prolongados. No fim do ano, com o carro imundo antes de uma longa viagem, ela recorreu a um serviço de lavagem na madrugada. “Depois que já tínhamos saído de casa, eu e meu marido lembramos que um posto da 208 Norte tinha um lava a jato 24 horas. Foi a nossa salvação e conseguimos seguir viagem sem muito prejuízo no horário”, conta. O posto oferece uma pequena biblioteca para que os motoristas aguardem a lavagem do carro na companhia de livros ou assistindo à televisão.

     Brasília atualmente oferece uma dezena de supermercados que funciona dia e noite. Um deles é o Pão de Açúcar do Sudoeste, onde o servidor Florêncio Palha Dias é visitante frequente. Ele diz que até poderia ir mais cedo ao supermercado, mas prefere observar as gôndolas sem ter de disputar espaço com outros clientes, além de não precisar enfrentar caixas com filas muito longas. “Depois de meia-noite, a cidade fica mais tranquila. No caso do supermercado, tenho a liberdade de escolher os produtos com calma, e isso faz com que a madrugada seja o meu horário preferido para as compras”, diz.

     Para ele, mesmo que Brasília possa parecer uma cidade turrona à primeira vista, aos poucos, não há como não se encantar com a jovem capital. “O conforto que a cidade me dá me faz gostar muito daqui. O Eixo Monumental, entre outros cantos da cidade, é de tirar o fôlego. Sim, é diferente de muitos lugares, não se parece nada com o minha terra natal. Mas diferente, no caso de Brasília, não quer dizer ruim. É muito bom viver aqui”, garante o piauiense.

     Fonte: ISABELA DE OLIVEIRA revista Encontro Brasília

Comentários

Comente aqui este post!
Clique aqui!

 

Também recomendo

  •    Ter vivido a juventude em Brasília nas décadas de 80/90 foi um privilégio. Quem viveu por aqui sabe a quantidade de alternativas que tínhamos. As preocupações eram outras e as características da cidade nos faziam procurar uma identidade e desenvolver comportamentos muito peculiares. Ao relembrar esses fatos, muitos sentimentos voltam à tona, de forma saudosa para muitos de nós.   (continua)


  •      Para os que amam a cidade de Brasília. Que belas imagens! Apesar da seca e queimadas desta época do ano.

    "...Céu de Brasília
    Traço do arquiteto
    Gosto tanto dela assim..."
    Linha do Equador - Djavan


  •    Apesar de sempre termos ouvido falar que em Brasília não tínhamos muitas opções de lazer, tivemos muitos bons lugares pra sair com os amigos. Lembrei de alguns: Sunshine, Lescalier, Rock Cerrado, HI-FI dos Previdenciários, Cavalo de Ferro, Hippus...   (continua)


  •    É interessante perceber como Brasília desperta sentimentos variados nas pessoas, sobretudo nas que vieram de outros estados. Nós que nascemos aqui, geralmente vivemos momentos bons e inesquecíveis. Sair para comer era um programa sem grandes riscos. Não lutávamos por vagas em frente aos restaurantes...   (continua)


Copyright 2011-2024
Todos os direitos reservados

Até o momento,  1 visitas.
Desenvolvimento: Criação de Sites em Brasília