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Os sons secretos da cítara indiana

Enviado por Habbas Gazan
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     Autoria de Carlos Abranches, inspirado em Rubem Alves, publicado em 1993 na revista Reformador, da Federação Espírita Brasileira.

    Para quem não sabe, a cítara é um instrumento musical composto de duas camadas de cordas superpostas, uma sobre a outra, muito próximas, sem nunca se tocarem. A camada de cima é sensibilizada pelo músico, e a de baixo não pode nunca ser tocada pelos dedos.

    Quem pouco entende dos segredos sonoros pode perguntar-se por que razão um instrumento musical tem cordas que não são tocadas.

    A beleza desse mistério está justamente na harmonia que enlaça as duas camadas.

    Os dedos não tocam a de baixo para que suas cordas possam vibrar pela magia de uma coisa muito mais sutil que os dedos. Tangidas pelos sons que brotam das primeiras, elas reverberam e fazem nascer uma outra música, diversa daquela que o artista produziu.

   Eis o segredo.Eis a sensibilidade.Olhemos agora para nós.

    Quem sabe sejamos cítaras humanas, que vivem dentro de um encanto chamado vida, provocado pelo carinho criador de Deus;

    Lá dentro, no fundo de nossa essência, estão as segundas cordas de uma única verdade, que os dedos nunca tocam, mas que fazem ouvir uma outra voz, a vibrar pelos escaninhos do silêncio…

   Vem de lá uma canção imortal, jamais tocada, mas que, se ouvida, pode dizer muito de nós. Talvez seja esta a melodia diferente que os bons ouvem.

    Aqueles que lêem com amor o não-dito das palavras humanas, separando a mentira da verdade, o joio do trigo, e escolhendo o bem.

     Talvez seja, essa música oculta, a melhor definição de amizade. Afinal, o que um amigo faz senão educar-se para escutar nosso silêncio, que às vezes busca um abraço, um momento de atenção para aplacar sua melancolia?

    Um amigo é também algo mais. É aquele que faz do seu sossego um recanto confiável, onde o outro pode guardar seus segredos e não ter medo de perdê-los.

    Um amigo é aquele onde nossa segunda pauta encontra eco, porque sabe que no âmbito da amizade a solidão é um convite ao recolhimento,para que sejamos ouvidos, para que possamos reverberar.

   Nos braços de um amigo, nossa solidão se dilui no suave aroma da partilha. Você, a quem muitos consideram verdadeiro irmão, pode treinar os ouvidos do sentimento para escutar uma nova melodia.

   Preste, porém, menos atenção no que as pessoas irão tocar e mais nos sons daquelas cordas que nunca serão tangidas. Aproveite, também para apreciar a beleza da música que brota de todo lugar.

    Aí escutará a segunda canção de Deus, convidando-o a que habite uma realidade nova: a de ser, finalmente, um bom e melhor amigo, que com muito amor, aprendeu a chamar os outros para fora da solidão.

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