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A internet vai mudar o mundo completamente - Hu Yoshida

Enviado por Gilberto Godoy
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     Texto escrito em 2012
   Atuando nos bastidores de quase tudo, a Hitachi é uma companhia gigantesca, mas relativamente pouco conhecida se comparada a Google, Apple e Microsoft. De usinas nucleares a trens, a empresa japonesa tem mais de 300 mil funcionários e diversos projetos espalhados pelo mundo. E lá no alto, nos cargos de vice-presidente e Chief Technical Officer (CTO, ou diretor técnico) da Hitachi Data Systems, está Hubert – ou Hu – Yoshida. Ele diz nesta entrevista, entre outras coisas, que em 2020 nossas estruturas sociais de tecnologia e relacionamentos será bem diferente. Vejamos:

   O norte-americano está na companhia há 15 anos, sendo hoje um dos nomes mais influentes no mundo da Tecnologia da Informação. Recentemente, ele esteve em São Paulo para passar na Poli-USP, onde fez uma palestra sobre internet das coisas, big data e inovação social, um dos principais ramos no qual a empresa está focada atualmente.

   Aproveitando a visita de Yoshida à cidade, INFOconseguiu conversar com o CTO da HDS. Na conversa, o executivo explicou melhor o que é esse conceito de “Social Innovation”, falou dos projetos da empresa na área – como o sistema ferroviário de Londres, pelo qual a Hitachi ficou responsável – e também discutiu o futuro da chamada Internet das Coisas, outro dos ramos em que a companhia japonesa está envolvida fortemente. Confira a conversa a seguir.

   A Hitachi está trabalhando em um ramo que chama de “Inovação Social”, ou “Social Innovation”, que você discutiu em sua palestra na USP. O que é isso, exatamente?

   Inovação social é um dos focos estratégicos para a Hitachi – mas soa como uma ideia abstrata, não soa? Só que ela é bem real. Olhemos para a história: lembro-me de uma cidade chamada Éfeso, na Turquia. Em 1.000 a.C., cerca de 200 mil pessoas viviam lá – ou seja, era uma cidade enorme, ainda mais se você notar que a população mundial na época era cerca de 200 milhões de pessoas. Quando olhamos para as ruínas de lá, vemos aquedutos, estradas, fazendas, uma biblioteca, instalações de saneamento... Tudo parte da infraestrutura social, que fez a cidade chegar àquele tamanho. Mas durante os 500 anos seguintes, no Império Bizantino, a cidade decaiu – tudo porque eles não prestaram atenção na inovação. Então, este aspecto representa o progresso da civilização, e é nisso que estamos focando.

   E como vocês planejam desenvolvê-la, já que entraram de vez nessa área?

Nossos pilares para esse ponto são energia e cidades inteligentes, e a base disso tudo é a tecnologia da informação (TI) – porque tudo exige TI. Nós escolhemos focar nessa área há cerca de oito anos, e um dos motivos para isso foi nosso foco em muitas áreas diferentes. Essa parte de inovação social ainda se encaixou bem na de internet das coisas. Conforme construímos sensores para máquinas inteligentes, que conversam umas com as outras, as conexões [e os dados] nos ajudaram a nos mover mais rapidamente dentro da parte de inovação social. Conversei com professores aqui na USP que estavam muito interessados nisso. Para eles, esse é um ponto chave para o crescimento do Brasil, devido aos problemas de poluição, de água, de trânsito e tudo mais.

   Que tipos de projetos vocês têm que envolvem essa área e a de big data?

Nossos sistemas de dados estão envolvidos em muitos projetos. Como somos uma empresa de TI, trabalhamos com retailers, empresas de telecomunicação, bancos... Mas as maiores áreas mesmo, onde as companhias maiores estão envolvidas e para onde estamos indo, são as de ciências médias, petróleo e gás, transportes, energia e coisas do tipo. O big data hoje é muito comercial. Mas o que estará na internet de amanhã será mais voltado à vida pessoal e à segurança, à inovação social no geral.  

   Como exatamente a inovação social e o big data poderão ajudar nessa parte pessoal?

O sistema de saúde é um bom exemplo de como a tecnologia criou divisões [que podem ser derrubadas com a ajuda desses dois pontos]. A GE faz máquinas para essa área, com um sistema completo, mas com a aplicação isolada [em um silo, como Yoshida se referiu], e a vende para cardiologistas. Depois, fazem outra e mandam para oncologistas. A Fujitsu também faz as próprias máquinas, parecidas com as da GE, e as leva para outro departamento no hospital. Mas nenhum desses sistemas conversa um com o outro – e o maior desafio das tecnologias médicas é contornar isso. Esses “silos” isolados são criados porque essas empresas deixam o TI de lado, e nós não queremos que isso aconteça na próxima geração de big data. Queremos começar na base da informação e construir em cima dela, porque de outra forma, você acaba caindo no mesmo problema – “silos” muito específicos, que são bons no que fazem, mas não ajudam a mais ninguém. O que queremos fazer quando falamos de Internet das Coisas é construir a infraestrutura sobre uma base, para assim conseguir compartilhar todos os dados.

   Vocês já têm algum projeto funcionando que siga esse objetivo de vocês?

Temos o projeto de trens no Reino Unido. O sistema deles é movido a diesel e tem 40 anos, e os britânicos querem converter para eletricidade, fazendo uso mais eficiente e limpo de energia. Mas há um período de transição considerável quando a ideia é fazer uma conversão como essa. Só que temos como diferencial os trens bimodais, que têm um motor a diesel na parte da frente. Enquanto não houver trilhos elétricos, eles usam o combustível mesmo – mas quando os trilhos elétricos forem instalados, podemos simplesmente remover o velho motor. Essas máquinas ainda têm seus sensores que monitoram tudo, nos dando um feedback para que possamos fazer manutenções no sistema. O que mais nos preocupa na máquina são as portas, porque elas abrem e fecham toda hora, e ainda há aquele “trânsito” todo porque as pessoas querem entrar e tudo mais – e uma coisa simples como elas pode tirar o trem de operação e nos fazer perder dinheiro. Monitorando os dados delas, portanto, mantemos o serviço funcionando.

Outro ponto que fazemos nesse sistema é prover o trem como um serviço – Train as a Service, ou TaaS. A companhia de trens não precisa, então, ter todos os veículos, porque nós somos responsáveis por eles e pela manutenção. A companhia ferroviária, portanto, não se envolve mais na parte de capital, e foca apenas nos serviços, nos pagando pelo contrato. É vantajoso para eles, e um conceito parecido com os de PaaS e IaaS. [Em segurança], o sistema é parecido com o do Japão, que você deve ter ouvido falar – aquele com trens que chegam a 200 Km/h. Ele foi instalado em 1964, e desde então não houve fatalidades, mesmo com terremotos, tsunamis e outros desastres. Parte disso foi devido ao sistema de controle de trens que nós temos. E nós o pegamos e “convertemos” para o padrão europeu, monitorando a velocidade dos trens e mais, para melhorar também a segurança. Enfim, nós temos o controle dos trens que convertemos para o padrão europeu, e estabelecemos marcas que precisamos atingir – e estamos até à frente de algumas delas, graças à experiência que tivemos no Japão.  Mas ainda são projetos muito, muito grandes [o da Hitachi começou em 2007, nas Olimpíadas de Londres, segundo Yoshida], e esperamos levá-los até outros países que queiram converter o sistema a diesel para o elétrico.

   Na sua visita ao Brasil, você foi até a Poli-USP, a faculdade de engenharia da Universidade de São Paulo, que tem seu próprio projeto de cidade inteligente. O que viu de interessante lá?

Os diferentes projetos de cidades inteligentes focam em elementos distintos, e o que eles me mostraram lá foi algo que eu ainda não havia pensado, relacionado à alimentação. É preciso ter fazendas ao redor das cidades, e pelo menos em São Paulo, a área de agricultura é muito avançada. Mas ainda há a questão de como fazer os alimentos chegarem às cidades – de 30 a 40% de tudo que é produzido acaba perdido porque estraga. Então como montar um sistema de transporte e distribuição para minimizar isso? Eles têm esse foco, enquanto outros projetos de cidades inteligentes estão olhando para outras partes. O que é interessante daqui, portanto, é o que é possível traçar um panorama maior de agricultura ao redor das cidades.

   As cidades inteligentes e a Internet das Coisas estão diretamente ligadas. Mas mesmo sem o conceito de Smart Cities estar totalmente desenvolvido, já estamos vendo um aumento considerável no tráfego de dados provenientes de aparelhos ligados à IdC. Como a Hitachi está lidando como isso, e o que outras empresas também podem fazer?

Para lidar com isso, focamos em uma estratégia básica nossa. Estamos começando a falar de exabytes e zettabytes de dados, mas muitos deles não ficarão ativos sempre. Então, boa parte disso pode ser colocada em cold storages, para não exigir tanta energia. Mas ainda ficam as questões de movimentação de dados, velocidade de coleta de informações, agilidade nas buscas e tudo mais. Os discos estão ficando muito lentos, verificar diretórios para encontrar um dado leva tempo, e os próprios bancos de dados estão demorando para preencher e escanear tabelas. Muitas das tecnologias necessárias para resolver isso já estão aqui, como o que o Google faz com metadados [os dados sobre dados]: se você precisa das informações, eles só apontam para outro local. Muito do que eles fazem envolve metadados, e conforme alcançamos a Internet das Coisas, teremos inteligência nas “pontas” [ou “edges”, as beiradas, como Yoshida se referiu] de tudo, e muito poderá ser feito nelas.

Em suma, tudo isso está mudando muito o cenário que nós temos na TI. A estratégia que temos que seguir é, primeiro de tudo, virtualizar a infraestrutura, separar a estrutura física do acesso da aplicação. Porque assim poderemos fazer mudanças, atualizar a infra (que fica velha e precisa ser mudada com frequência) sem problemas. Precisamos virtualizar servidores, redes e tudo mais, porque o software-defined fica cada vez mais importante. Já o segundo passo envolve separar os dados da própria aplicação, virtualizar os dados a partir dela, o que envolve os metadados. Fazer isso é a única forma de encontrarmos coisas sem depender das aplicações – porque elas vão morrer ou precisar de atualização, e às vezes o update nelas pode ser mais destrutivo do que o feito em uma infraestrutura. Uma vez que terminarmos tudo isso, começamos a olhar para a integração, as relações entre todos esses sistemas de armazenamento. Por isso que, como eu disse antes, temos que começar do fundo da informação. Se formos direto ao topo dela, vamos cair nos silos, como acontece no ambiente médico. Com esse tipo de estratégia, vamos conseguir lidar com todos esses problemas.

   A Internet das Coisas, portanto, está definitivamente crescendo no Brasil e no mundo. Como você enxerga o futuro dela?

A Internet das Coisas vai mudar o mundo completamente. Em 2020, tudo já será diferente por causa das máquinas inteligentes, que conversam umas com as outras. No caso dos automóveis, por exemplo, a BMW diz que os carros terão diversos sensores, não só para manutenção, como também para trânsito, seguro e direção autônoma. Lembro-me de tê-los visitado há uns dois anos para falar dessa última parte, e eles disseram que veríamos acontecer lá por 2020. Mas em um evento no ano passado, o CEO da Mercedes veio ao palco para mostrar o veículo autônomo deles [fora o que o Google já fez também]. Ou seja, isso já está acontecendo. E não acho que dê para mensurar como nossas vidas vão mudar com tudo isso.

     Fonte: Info/Exame

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