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Sobre a natureza das coisas - Lucrécio

Enviado por Gilberto Godoy
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   De rerum natura (Sobre a natureza das coisas) é um poema didático, dentro do género dos periphyseos cultivado por alguns pré-socráticos gregos, escrito no século I a.C. por Tito Lucrécio Caro; dividido em seis livros, proclama a realidade do homem num universo sem deuses e tenta libertá-lo do seu temor à morte. Expõe a física atomista de Demócrito e a filosofia moral de Epicuro.

   São raras as traduções portuguesas do poema de Lucrécio. Encontrámos duas do século XIX no catálogo em linha das Bibliotecas da Universidade de Coimbra (que, no seu conjunto formam uma das maiores bibliotecas do país)

   Uma delas é de António Leitão e foi impressa em Lisboa:
   Lucrecio Caro, Tito. "A natureza das coisas : poema de Tito Lucrecio Caro/ Traduzido do original latino para verso portugues por Antonio José de Lima Leitão (1787-1856), Lisboa : Typ. de Jorge Ferreira de Mattos, 1851-1853. 2 vols.; 17 cm.

   A outra é de Agostinho Falcão e foi impressa em Coimbra, na própria Imprensa da Universidade:
   Lucrecio Caro, Tito. "Os seis Livros Sobre a Natureza das Cousas / de Tito Lucrecio Caro, poeta romano ; vertido em verso solto portuguez por Agostinho de Mendonça Falcão." Coimbra : Imprensa da Universidade, 1890. 205 p.; 24 cm.

   As duas são, hoje, livros raros. Uma tradução recente é a do filósofo Agostinho da Silva editada no Brasil é: Da Natureza, Ediouro, 1986

   O texto encontra-se em versão integral na Net em inglês, francês e castelhano. O facto de não existir "on-line" em português esse clássico da cultura clássica diz bem do atraso da expansão da Net em português.

   Por último: Sabe-se muito pouco sobre Lucrécio. Ter-se-á morto no ano de 55 d.C. e teria escrito o seu lúcido poema em intervalos de loucura. Vale mesmo a pena ler este belo texto ficcional do escritor francês contemporâneo Philippe Sollers, publicado há muitos anos primeiro no Le Monde e depois na Folha de São Paulo, em que o autor se coloca na pele de Lucrécio. É atribuída a ele a ideia de que 'a natureza está em nós mais do que nossa consciência sobre nós mesmos.'

   Abaixo uma tradução possível para o poema de Lucrécio, por Antonio José de Lima Leitão (1787-1856), onde é possível se notar (veja aí Deivid) a noção da força da natureza sobre nós mesmos:
 

“Coisa nenhuma subsiste, mas tudo flui.
Fragmento ajusta-se a fragmento e as coisas assim crescem
Até que as conhecemos e nomeamos.
Fundem-se, e já não são as coisas que conhecêramos.

Formados dos átomos que caem velozes ou lentos
Vejo os sóis, vejo os sistemas se ordenarem;
É sólido que a natureza está em nós até mais
Do que nossa consciência sobre nós mesmos.

Tu também, ó Terra, teus impérios, países e mares
A menor de todas as galáxias,
Também formada assim, também tu te irás, ó Terra,
E hora a hora vais indo, ó Terra.

Nada subsiste. Teus mares desaparecerão em névoa;
As areias abandonaram o seu lugar,
E onde hoje se acamam outros mares
Abrirão, com suas foices de brancura, outras baías”.

Lucrécio 96 a.C. – 55 a.C.

 

Wikipédia:

   Tito Lucrécio Caro (em latim: Titus Lucretius Carus; ca. 99 a.C. – ca. 55 a.C.) foi poeta e filósofo latino que viveu noséculo I a.C.

   Nasceu ca. 99 a.C. e viveu 44 anos.1 "Assim como Tertuliano, um dos primeiros Padres da Igreja, inventou a história de que o materialista Demócrito teria furado os próprios olhos por não suportar o desejo sexual despertado pela visão de jovens mulheres, assim também são Jerônimo inventou que Lucrécio teria bebido um filtro de amor, enlouquecido e escrito seu poema nos intervalos de lucidez, terminando por se suicidar. O mínimo que um leitor atento do Sobre a Natureza das Coisas (De Rerum Natura) pode afirmar é que essa obra jamais poderia ter sido escrita em 'intervalos de lucidez!" (CHAUÍ, M. Introdução à História da Filosofia. Ed. Compahia das Letras, p. 253). Seus vários livros foram editados por Cícero.1

   Para Lucrécio, a alma é mortal. Após o decesso, resta um simulacro (simulacrum), os fantasmas que assombram os vivos. Deste modo, ele resgata a ideia epicurista de eidolon, termo grego. Ele afirma que o medo da morte criou o mito da imortalidade da alma. A Teosofia sustenta a tese da alma morredoura, mas defende que o espírito, princípio que anima a alma, é o Ser que realmente sobrevive à morte.

   É provável que tenha nascido em Roma, onde foi educado. Sua fama decorre do poema De rerum natura (Sobre a natureza das coisas), onde expõe a filosofia de Epicuro de Samos. Para Lucrécio, o epicurismo era a chave que poderia desvendar os segredos do universo e garantir a felicidade humana. Tão entusiasmado ficou que se propôs a tarefa de libertar os romanos do domínio religioso através do conhecimento da filosofia epicurista.

   Em De rerum natura Lucrécio apresenta a teoria de que a luz visível seria composta de pequenas partículas. Teoria incompleta, apesar de bastante consistente, é uma espécie de visão antiga da atual teoria dos fótons. Também neste poema, Lucrécio sustenta a ideia da existência de criaturas vivas que, apesar de invisíveis, teriam a capacidade de causar doenças. Esta ideia representa na realidade a base da microbiologia.

   Além de fonte preciosa para o conhecimento do epicurismo, o poema de Lucrécio tem grande importância literária e seus versos consagram o autor como um dos maiores poetas latinos.

   Segundo o padre São Gerônimo, Lucrécio matou-se aos 44 anos de idade e seu poema foi escrito em intervalos de ataques de loucura.1 A bem da verdade, as "circunstâncias da vida e da morte de Lucrécio são desconhecidas. A habitual informação de que ele se suicidou em razão de crises de loucura, acrescidas de perturbações amorosas, não é plenamente confiável. Só há um registro nesse sentido, transmitido por São Jerônimo, que, em seu tempo, foi um grande opositor de Epicuro e do epicurismo” (SPINELLI, Miguel. "O devotamento de Lucrécio a Epicuro e ao epicurismo". In Os Caminhos de Epicuro. São Paulo: Loyola, 2009, p. 215ss).

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