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Planeta Neymar - PVC

Enviado por Gilberto Godoy
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   “O Planeta Neymar” (Editora Paralela – selo da Companhia das Letras), define já em seu subtítulo, “Um perfil”, não se tratar de uma biografia completa. Mas pelos dois capítulos disponibilizados pela editora em seu site http://www.editoraparalela.com.br/detalhe.php?codigo=88091 e que você pode ler neste post, percebe-se a riqueza de detalhes obtidos pelo talento do repórter PVC ao escrever, principalmente, sobre os primeiros passos do craque no litoral paulista quando ainda jogava o Futsal. E ainda, sobre o pioneirismo no planejamento da carreira de Neymar. O livro entra no mercado editorial (nacional e internacional, pois a edição é bilíngue) nas duas versões, papel e e-book. Em papel ou digital é leitura obrigatória.

   A descoberta

   Em 2005, José Ely de Miranda entrou na sala do então presidente do Santos, Marcelo Teixeira, com a frase perfeita caso o objetivo daquele encontro entre os dois fosse a contratação de um craque de futebol já consagrado para o alvinegro praieiro: “O senhor tem de ver!”. Miranda era responsável pelas chamadas categorias de base do Santos Futebol Clube, ou seja, pelos pré-adolescentes e adolescentes que são treinados pelo time para eventualmente serem, no futuro, aproveitados como jogadores profissionais (o que só acontece com muito poucos). Ele entrou para a história sob o apelido de Zito, um volante que foi nove vezes campeão paulista e duas vezes campeão mundial de clubes pelo Santos (em 1962 e 1963) — além de duas vezes campeão mundial pela seleção brasileira (nas Copas do Mundo de 1958 e 1962). 

   Zito também se tornou uma lenda por nunca ter se intimidado com um certo companheiro de time chamado Pelé e por, no campo, gritar para que o melhor jogador da história do futebol voltasse para a defesa e ajudasse na marcação dos adversários, ou até mesmo para que se movimentasse mais na partida. Sobre ele, o grande cronista mineiro Paulo Mendes Campos um dia escreveu: “Zito é mensageiro de dois mundos:/ o da vida, na área adversária (onde residem os mistérios gozosos)/ e o da morte, na área do coração brasileiro (onde residem os mistérios dolorosos)”. Aos setenta anos, seu entusiasmo parecia ser o da época em que jogava no mesmo time de jogadores épicos do Santos, como o elegantíssimo goleiro Gilmar, o curinga Lima (que jogava em várias posições) e o ponta-esquerda Pepe, dono de um formidável chute. Zito estava encantado com o talento futebolístico de um guri sessenta anos mais novo do que ele.

   Naquele momento, o time do Santos comemorava as descobertas preciosas dos jogadores Robinho (que foi para o Real Madrid, Manchester City e, depois, para o Milan, da Itália) e Diego (que circulou pelos grandes campeonatos da Europa, como o alemão e o italiano, até chegar ao Atlético de Madrid), da segunda grande geração dos “Meninos da Vila” — que fez o clube voltar a ser respeitado e a conquistar o Campeonato Brasileiro de 2002. Apesar de o time santista ser a “bola da vez”, “seu” Zito, como Neymar Jr. o chama até hoje, queria mais, bem mais.

   No início, o presidente Teixeira não compartilhou o entusiasmo de Zito. Disse ao ex-volante — Zito fez na seleção brasileira, ao lado de Didi, uma das mais importantes duplas de meio-campo da história do futebol mundial — que se o menino tinha apenas dez anos e o Santos só tinha categorias de base a partir de Sub-13 (da qual só podem participar garotos que completem doze ou treze anos no ano do campeonato), não havia razão para ir vê-lo jogar. Seria melhor esperar o moleque amadurecer mais um pouco. Zito reagiu imediatamente: era preciso não só contratá-lo, mas criar categorias mais jovens em que o menino pudesse se desenvolver. A decisão não era simples: ela envolvia não apenas o aproveitamento de um talento bastante precoce — que poderia não se confirmar no futuro —, mas o investimento na criação de várias categorias infantis só para aproveitar aquele noviço. No início de 2003, Teixeira finalmente atendeu ao apelo de Zito. “Vamos ver esse seu jogador aí!”, disse, e foi assistir ao menino Neymar jogar no Gremetal, o Grêmio dos Metalúrgicos da cidade de Santos. Sem saber que o poderoso presidente do Santos estava na arquibancada naquele dia, Neymar não jogou bem. “Eu também não quis mostrar muita empolgação. Evitei fazer parecer que eu iria apadrinhá-lo. Naquele dia, ele jogou bem, mas não foi tudo aquilo que esperávamos”, lembra Marcelo Teixeira.

   Semanas depois, Zito insistiu mais uma vez e Teixeira resolveu assistir a uma partida de Neymar Jr. em São Vicente (aliás, cidade natal de Robinho e do professor de literatura, músico e torcedor do Santos José Miguel Wisnik, que escreveu que nela “o futebol estava em toda parte”), onde o garoto morava. Naquele dia, Neymar já sabia do interesse do presidente do time da Vila Belmiro — que começava a firmar a imagem de um dos clubes que melhor aproveitavam os jogadores das categorias de base no Brasil.

   Se havia tido uma participação não mais do que discreta na primeira partida a que Teixeira havia assistido, na segunda o menino foi um assombro! “Ele já sabia que eu o estava observando. Quando cheguei, ele não se intimidou. Acabou com o jogo! Acabou! Deu drible, chapéu, fez de tudo. Só não fez chover porque o ginásio era coberto”, diz o homem que presidiu o Santos entre 1991 e 1993 e entre 2000 e 2009.

   A partir daquele dia em São Vicente, Teixeira passou a ser o principal avalista de Zito na teoria de que o clube estava descobrindo um novo diamante bruto. A única dúvida era sobre o seu quilate: “O Zito nunca me falou em um novo Pelé. Nós achávamos que estávamos prestes a encontrar outro Robinho”.

   Marcelo Teixeira conta que se encantou com o garoto a ponto de precisar atender ao pedido daquele ex-volante que aliviara toda a nação, em 17 de junho de 1962, quando, no Estádio Nacional de Santiago, no Chile, vestindo a camisa canarinho com o número 4 às costas, subiu de cabeça, aos 24 minutos do segundo tempo, para virar o jogo — o Brasil, com mais um gol de Vavá dali a pouco, faria 3 a 1 na então Tchecoslováquia e ganharia o bicampeonato mundial (“quando Zito chegou foi só alçar a infiel por cima da muralha eslava”, assim o gol foi descrito pelo cronista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que cobriu aquela Copa). Ou seja, seria necessário encontrar um lugar para acolher aquele menino extraordinário.

   Por determinação de Teixeira, criou-se um centro de treinamento chamado significativamente de Meninos da Vila. Qualquer garoto na faixa de dez anos teria onde jogar na cidade de Santos, desde que fosse no time do Santos, é claro. Inicialmente, o clube passou a se organizar para ter jogadores abaixo dessa idade, embora não no futebol de campo, mas no futsal.

   “Eu não tinha orçamento para investir nas categorias de jogadores mais novos, e disse isso ao Zito. Mas, quando vi aquele menino jogar, percebi que precisávamos criar a estrutura. Não só para ele, mas para uma legião de jogadores que poderiam aparecer no Santos.” Em dois meses, a nova estrutura estava criada. Não era só para Neymar, mas era sobretudo porNeymar.

   A grande viagem

   O menino talentoso foi procurado pelo Real Madrid logo depois da chegada de Robinho ao clube espanhol, em 2005. Ele tinha treze anos. Não era pura coincidência. Junto com Robinho, chegara à capital espanhola o conhecido empresário brasileiro de jogadores de futebol Wagner Ribeiro.

   Ele conhecia Neymar Jr. tão bem quanto o presidente Marcelo Teixeira ou o craque Zito. Fora apresentado ao Neymar, pai, por Roberto Antonio dos Santos, o Betinho, o primeiro treinador do garoto, que investiu nele quando Neymar Jr. tinha apenas doze anos.

   Na apresentação do novo jogador “merengue”, já se discutia o próximo negócio entre as duas equipes que têm o uniforme número um inteiramente branco e que dominaram o futebol mundial na década de 1960. O início da temporada 2005-6 marcou a estreia de Robinho no Real Madrid, contratado por 50 milhões de dólares, e também a chegada do argentino Lionel Messi ao time principal do Barcelona.

   Robinho chegara à Espanha no início daquela temporada, estreando em agosto de 2005 depois de uma enorme novela — que se repetiria, anos depois, com a contratação de Neymar pelo Barcelona, mas em circunstâncias diferentes. O Santos recusava-se a vendê-lo por valor menor do que o estipulado na multa por rescisão contratual. O Real Madrid teria de pagar os 50 milhões de dólares da multa ou não levaria o jogador. Robinho argumentava que, por ser dono de 40% do contrato, poderia franquear ao time espanhol depositar “apenas” 30 milhões de dólares. O negócio emperrou e o jogador decidiu entrar em greve enquanto o imbróglio não se resolvesse. Ficou sem atuar por quinze dias e ganhou a briga. Ou pelo menos parte dela.

   O time brasileiro aceitou liberá-lo do contrato desde que o Real Madrid pagasse integralmente os 60% do valor correspondente à parcela controlada pelo Santos Futebol Clube. Os outros 40% pertenciam ao jogador, que abria mão de receber 20 milhões de dólares. Robinho estava ansioso para jogar na Europa e decidira negociar sua parte com o Real Madrid posteriormente.

   Ele foi. Wagner Ribeiro foi junto. E foi avisando a quem quisesse ouvir que o Real Madrid poderia ter um jogador equivalente àquele argentino supertalentoso que o Barcelona acabara de lançar. Messi havia ido para a Espanha aos treze anos. Neymar estava chegando aos treze anos. O time dos sonhos da capital espanhola conseguiu levar o pré-adolescente para viver na charmosa Madri.

   Nessa época, outro Neymar, o pai, ex-jogador do Coritiba e do União de Mogi das Cruzes, era mecânico da Companhia de Engenharia de Tráfego (cet) de Santos. Recebia um salário em torno de 2 mil reais mensais. A família morava em uma casa alugada em São Vicente. O sonho de Neymar Jr. de mudar de vida e de poder conviver com todos os grandes craques galácticos do Real Madrid era inseparável da dor de ficar longe da família e dos amigos e das vicissitudes de morar na Espanha. A oportunidade de conviver e de aprender com os melhores e mais famosos jogadores de futebol do mundo era extraordinária: ele ficou hospedado na casa de Robinho. Nos treinos do time madrilenho, encontrava-se com Ronaldo Fenômeno, Zinédine Zidane, Roberto Carlos...

   Neymar Jr., como qualquer garoto perna de pau que tivesse essa oportunidade, tirou fotos com todos os ídolos. Há momentos marcantes na relação com Robinho, seu ídolo de Santos, e com Ronaldo. Ele jogava e via jogar. Via o Real Madrid ganhar partidas consecutivamente, embora quem tivesse vencido o Campeonato Espanhol naquela temporada tivesse sido o histórico rival da cidade de Barcelona.

   Durante dezenove dias o garoto viveu o glamour de assistir aos jogos do Real Madrid no emblemático estádio Santiago Bernabeu e a certeza de ser um futuro craque, motivada pela convivência com os gênios do time espanhol. Nesse período de testes, marcou 27 gols nos treinos e deixou os técnicos das divisões de base do Real com água na boca. Apesar das vantagens aparentes, o menino tinha dúvidas. Ele não estava certo de que ficar naquela equipe de uniforme alvo como o do Santos seria a melhor decisão para a sua vida. Será que, num futuro não muito distante, haveria espaço para ele em um elenco inchado de supercraques cujos passes haviam custado uma fortuna para o Real? Ou será que ele, como muitos outros jovens talentos, seria obrigado a aceitar um plano B e ser emprestado para times espanhóis de menor expressão como o Granada, da cidade do mesmo nome, ou o Rayo Vallecano, do bairro de Vallecas, em Madri, e correr o risco de não cumprir o destino de grande estrela do futebol que tudo indicava que para ele estava reservado? O que seria melhor para o menino pobre que ele era: continuar na Espanha, próximo dos grandes centros futebolísticos da Europa, ou voltar para o Brasil?

   Neymar não estava feliz na Espanha. Ao contrário de Messi, mais introspectivo, o brasileiro era expansivo, alegre, gostava de estar com os amigos, de cantar, de dançar. As dúvidas e a sua infelicidade atormentaram toda a família Silva Santos. Mas estava decidido: por mais que os pais intuíssem que o melhor para ele seria voltar para o litoral paulista, a escolha final seria de Juninho. Como em tantas partidas decisivas que jogaria nos anos seguintes, a responsabilidade recairia sobre os ombros do garoto.

   Sobre o autor:
   Paulo Vinícius Coelho nasceu em São Paulo, no dia 30 de agosto de 1969. Decidiu ser jornalista aos 14 e sempre pretendeu trabalhar com esportes. Começou a carreira em 1987 no jornal Gazeta do ABC. Passou pelo Diário do Grande ABC (1990), pela revista Ação, como estagiário (1991), pela revista Placar (1991 a 1997) e foi fundador do diário Lance!, no qual começou a trabalhar em agosto de 1997, três meses antes do lançamento em banca. No Lance!, foi repórter especial e editor executivo antes de retornar a Placar em junho de 2000, quando já era comentarista do canal ESPN Brasil. Passou um ano em Placar, voltou ao Lance! para editar a revista Lance! A+ (setembro a dezembro 2001). Desde janeiro de 2002 vem trabalhando como comentarista na ESPN Brasil. É também colunista do jornal Folha de S.Paulo.

          Fonte: blog Literatura na arquibancada

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