Aguarde por gentileza.
Isso pode levar alguns minutos...

 

A bela lição de vida de Clint Eastwood

Enviado por Gilberto Godoy
a-bela-licao-de-vida-de-clint-eastwood

 

     Blog de Ricardo Kotscho

     Ao contrário do nosso sábio Ruy Castro, pouco entendo de cinema e tenho péssima memória para lembrar dos filmes e atores que vi nas telas, mas gosto muito de falar de histórias de vida.
 
     Por isso me deu vontade de escrever hoje sobre o ator e diretor Clint Eastwood (não me lembro dos filmes dele a que já assisti). "Você precisa ler esta entrevista", foi logo me dizendo minha mulher assim que cheguei à casa do Toque Toque Pequeno para encontrar a família.
 
     Sobre a mesa estava a edição da "Istoé" desta semana. O título da entrevista que ele deu a Elaine Guerini, em Los Angeles, já diz tudo: "O trabalho me mantém jovem".
 
     A repórter conta que, na semana anterior, Clint aceitou ser capa da revista do jornal francês "Le Monde" com a condição de não ter suas rugas apagadas pelo photoshop. De fato, o grande ator está com cara de velho, mas a entrevista mostra um moço cheio de energia com vontade de fazer muito mais coisas na vida.
 
     Uma declaração dele, em particular, me chamou a atenção: "Esperava ter me aposentado 30 anos atrás. Como não aconteceu, será preciso mais do que uma dor nas costas para me fazer parar".
 
     Com a mesma idade, já aposentado depois de 35 anos de serviço, pensei a mesma coisa no verão da virada do milênio aqui neste mesmo lugar.
 
     Já meio cansado de fazer as mesmas coisas a vida toda, viajando pelo país e pelo mundo como repórter, e após uma boa temporada trabalhando como diretor de jornalismo na televisão, pensei em largar tudo para escrever um livro.
 
     A ideia, que cheguei a conversar com alguns amigos editores, era exatamente contar a história de uma guinada radical na vida, mostrando a nova rotina do sujeito que decide ir morar na praia, longe do mundo das notícias.
 
     Já tinha até o título _ "Diário de um Vagabundo" _ e comecei a fazer algumas anotações durante as férias. Enchi um caderno com as lembranças de velhos pescadores, brigas de cachorros, baleias encalhadas, barcos virados, corridas de canoa. A familia e os amigos foram voltando para a cidade grande e eu fui ficando. Claro que não aguentei muito tempo.
 
     Encontrar todos os dias as mesmas poucas pessoas, em meio ao tédio da antiga vila de pescadores fora da temporada, conversando sobre o tempo e as marés, certamente não me renderia um livro muito emocionante. Quem iria querer ler este diário?
 
     Convencido de que cada nós tem um destino e não há como fugir muito dele, em dois meses estava de volta a uma redação trabalhando como repórter, ofício que exerço até hoje.
 
     De vez em quando também me dá dor nas costas de tanto escrever, além de outros achaques da saúde comuns a quem nunca cuidou muito do próprio corpo.
 
     Não é o caso de Clint Eastwood. A colega Guerini conta que ele "levanta pesos todos os dias de manhã, antes de encarar um dia de filmagem. Mas é o trabalho, mais do que tudo, que para ele o mantém com espírito jovial e ainda em atividade".
 
     Agora mesmo ele está lançando um novo filme como diretor. Com lançamento programado no Brasil para o próximo dia 27,  "J. Edgar" é uma cinebiografia sobre a trajetória pessoal e profissional de J. Edgar Hoover, que foi por 48 anos chefe do FBI. Clint quer mostrar o que leva uma pessoa a não largar o osso do poder, qualquer que seja o preço.
 
     Uma das passagens da entrevista mostra a bela lição de vida deste jovem de 81 anos, dono do seu tempo. "Tenho com o cinema a mesma relação que tenho com o golfe. Adoro jogar golfe, mas não quero ter a obrigação de praticá-lo todos os dias. Claro que aprecio o fato de ainda ter o que fazer, o trabalho me mantém jovem".
 
     Um bom exemplo para ele é o cineasta português Manoel de Oliveira, que, aos 103 anos, continua no batente, como o nosso grande Oscar Niemeyer. Será que Clint também chega lá?
 
     "É cedo para dizer. Conheci Manoel no Festival de Cannes, anos atrás, quase perguntei: qual o uísque que o senhor toma? Manoel ainda tem muita vitalidade, como quem está determinado a chegar aos 110. Às vezes, até fico desconfiado. Ou ele é mesmo incrível ou andou mentindo. Talvez Manoel esteja com 60 anos e diga ter passado dos 100 só para ouvir as pessoas dizerem que ele ainda está bem para a idade...".
 
     Quando nos dizem que estamos bem para a idade, é porque estamos ficando velhos. Para mim, a idade varia conforme o dia. Tem dias que me sinto com 30; em outros, com mais de 100. Não importa. O que importa mesmo é que a gente tenha o que fazer, goste do que faz e procuro fazer bem feito.
 
     Por isto estou aqui a escrever neste belo sábado de sol enquanto os netos brincam na piscina. Tem vida melhor?
 
     Identifiquei-me de cara com ele.

Comentários

Comente aqui este post!
Clique aqui!

 

Também recomendo

  •    Étienne de La Boétie morreu aos 33 anos de idade, em 1563. Deixou sonetos, traduções de Xenofonte e Plutarco e o Discurso Sobre a Servidão Voluntária, o primeiro e um dos mais vibrantes hinos à liberdade dentre os que já se escreveram.  Toda a sua obra ficou como legado ao filósofo Montaigne (1533 – 1592), seu amigo pessoal que... (continua)


  •    É duro aceitar que algumas pessoas são mais capazes e mais afortunadas do que outras. Há muito suspeitava que um dia as mulheres mais bonitas iam ser de alguma forma castigadas por nossa sociedade. Meu temor, em parte, se confirmou. Incluindo aí também um castigo para os homens mais bonitos. E por quê?   (continua)


  •    Hoje voltou o frio. Veio como havia muito não vinha. Gelou o ar, esfriou o sofá da sala, resgatou meias, casacos e dores do fundo de uma gaveta que emperra como não quisesse abrir. Chegou sabe-se lá de onde, do pacífico, dos polos congelados, do sul do país. Não importa. Aqui faz frio. Em seu sopro fresco e úmido, esse frio há de aquecer os ímpetos de alguém.   (continua)


  •    Existe no português uma palavra chamada solitude, que diferente de solidão é uma solidão voluntária, escolhida, desejada. Nós não somos muito acostumados a ligar vontade com solidão, por isso a palavra solitude é pouco usada. É meio óbvio pensar que as sociedades antigas só podiam dar nomes àquilo que elas viam ou que existia, pois é...   (continua)


  •    O professor de História, no seu primeiro dia de aula, entra e os alunos nem percebem, conversando, falando ou jogando no celular. Ele escreve na velha lousa um imenso H, e depois vai desenhando cabeças com bigodes e barbas, enxada, foice. A turma foi prestando atenção, trocando risinhos, e agora espera curiosa.    (Continua)


  •    Uma boa reflexão sobre o que podemos ser. 
      "Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista...   (continua)


  •    “Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapos e me presenteasse com mais um pedaço de vida, eu aproveitaria esse tempo o mais que pudesse... Possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não por aquilo que valem, mas pelo que significam.   (continua)


  •    "O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódios... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.   (continua)


Copyright 2011-2024
Todos os direitos reservados

Até o momento,  1 visitas.
Desenvolvimento: Criação de Sites em Brasília