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As seis perfeições do budismo - Melissa Diniz

Enviado por Gilberto Godoy
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     Praticar a generosidade, a disciplina ética, a paciência, a sabedoria, o esforço entusiástico e a concentração levam a um estado de bem-estar e felicidade plenos. Saiba como trazê-las para seu dia a dia e ter mais qualidade de vida.

     Imagine como seria se cada um de nós, ao nascer, recebesse um roteiro para encontrar a tão sonhada felicidade. Nesse tal código de conduta não estaria o nome de seu par perfeito nem a profissão que você deveria seguir para ter sucesso, mas algumas atitudes capazes de afastá-la da tristeza e da dor, levando-a a um estágio de bem-estar pleno. Pois, para os praticantes do budismo, esse roteiro existe e está expresso nas seis perfeições descritas por Buda e seus discípulos.

     A palavra perfeição, ou paramita (em tibetano), tem como tradução literal a expressão “ir além”, ou “atravessar para a outra margem”. Segundo os preceitos do budismo, essa “travessia” é o caminho mais eficiente para quem busca se libertar de emoções perturbadoras – como a raiva, o medo e a depressão – e quer viver com mais alegria, paz e prosperidade.

     Na realidade, o termo perfeição, nesse contexto, é usado para simbolizar seis virtudes: generosidade, disciplina ética, paciência, esforço entusiástico, concentração e sabedoria, que juntas configuram um estilo de vida baseado na compaixão. Isso porque, no budismo, o outro vem sempre em primeiro lugar e seu contentamento funciona como uma espécie de termômetro para sabermos se estamos na trilha certa para obter nossa própria satisfação.

     Para divulgar essa profunda filosofia, diversos representantes e divulgadores do budismo no Brasil se reuniram na Livraria da Vila, em São Paulo, por ocasião do lançamento do livro As Seis Perfeições – Como Atingir o Bem-Estar Supremo (WMF Martins Fontes), do mestre Geshe Sonam Rinchen.

     Na obra, o autor – que é professor de filosofia budista em Dharamsala, cidade indiana onde vivem o dalai-lama e as principais autoridades tibetanas condenadas ao exílio – comenta as vantagens de incorporarmos essas virtudes ao nosso dia a dia. “Ao respeitarmos o outro, por meio da prática das seis perfeições, somos capazes de alcançar o que mais desejamos”, diz. Ao que acrescenta a monja Coen, fundadora da Comunidade Zen Budista de São Paulo: “Quem pega só para si não percebe que faz parte de um todo e que beneficiando os outros também será beneficiado”.

     Aplicação e disciplina De acordo com Rinchen, enquanto a prática da generosidade, da disciplina ética e da paciência é direcionada ao benefício dos outros, a concentração e a sabedoria são importantes para o desenvolvimento pessoal. Já o esforço entusiástico é necessário em ambos os casos. Mesmo com o roteiro de Buda em mãos, alcançar o bemestar pleno exige dedicação. Rinchen afirma que somente com a prática constante e diária, mesmo nas situações mais simples da vida, é possível desenvolver essas virtudes. Essa é também a opinião da lama Tsering Everest, coordenadora do centro de budismo tibetano Odsal Ling, em São Paulo: “A mudança de hábitos somente é alcançada com a prática.

     Você pode usar as seis perfeições no ato de ouvir, ao arrumar a cama ou ao servir uma xícara de chá, mas o principal é saber que tudo o que fazemos deve ter como base não o eu, mas o todo”. Dadas as explicações, está na hora de saber como as seis perfeições podem ajudá-la a ser plena e equilibrada. Conheça um pouco mais sobre cada uma delas a seguir.


1. Generosidade
Uma das principais práticas da filosofia budista, é também sinônimo de doação. Mais do que abrir mão dos bens materiais e de consumo, ela implica disposição para dar algo ao outro de maneira espontânea e de boa vontade. O primeiro passo para você alcançá-la em plenitude é superar o apego. “Pensar na transitoriedade das coisas, inclusive do corpo, diminui nossa ligação excessiva a tudo que nos rodeia. Dê o possível agora e deseje intensamente ser capaz de se desapegar daquilo de que é mais difícil renunciar”, aconselha Geshe Sonam Rinchen. O exercício de tal atitude e a compreensão da transitoriedade das coisas evitam que soframos exageradamente na ausência de objetos, pessoas ou posses que consideramos importantes.


Ele recomenda: “Não adie uma ação generosa. Aproveite cada oportunidade que surgir na vida, pois possuir muito é inútil e, quanto maior a doação, mais recursos virão em nossa direção”. Do ponto de vista do budismo, o excesso de bens materiais, além de não trazer a real felicidade para a vida, gera concentração de riqueza de um lado e miséria do outro. Já a divisão dos recursos é capaz de criar prosperidade para todos. Vale lembrar mais uma vez que a generosidade só tem valor quando é sincera, feita com alegria e sem esperar nada em troca.


2. Disciplina ética
Formado pela junção de duas qualidades igualmente importantes e profundas, esse preceito se manifesta de três maneiras diferentes: a coibição do mal, a criação da virtude e o trabalho voluntário pelo próximo. Para o budismo, o mal se expressa por meio de toda atitude física e verbal que possa prejudicar os outros e a nós mesmas.


Por isso, um dos papéis da disciplina ética é justamente evitar a impulsividade, o arrependimento e levar à consciência plena das palavras e dos atos diários. “O primeiro passo para ter essa virtude é reconhecer e admitir os pensamentos e ações faltosos como tais”, diz Rinchen. Depois vem a necessidade de transformar suas atitudes: “Você está fazendo o que sempre fez, não é de surpreender que as coisas estejam na mesma. Se quiser que elas sejam diferentes, terá de mudar de hábitos”, orienta.


3. Paciência
Mais do que a simples calma, a paciência representa a capacidade de permanecer com a mente serena em qualquer situação, aceitando voluntariamente as adversidades e confiando que, aconteça o que acontecer, será para seu bem. Ela seria, em linhas gerais, uma compilação da tolerância, da resignação e da fé.


Mas é preciso, entretanto, diferenciar a paciência da supressão da raiva, alerta Rinchen. “Quando a raiva simplesmente submerge, persiste como ressentimento, e a paz e a harmonia não são possíveis enquanto houver mágoa”, diz. A paciência seria então o contrário da raiva, a possibilidade de perceber as dificuldades e defeitos dos outros e de compreendê- los, sem julgar, criticar ou condenar. Algo que não é fácil, é claro, mas que pode ser conquistado pouco a pouco. Outro alicerce dessa virtude é a esperança. “Assim como o dia é seguido pela noite e a noite pelo dia, bons e maus períodos se sucedem. Quando houver maus períodos, tome coragem e pense que o sofrimento não durará para sempre”, sugere.


4. Sabedoria
Raiz de todas as qualidades, essa é uma virtude importante para a prática de todas as outras. Sem ela, a generosidade, a disciplina ética, a paciência, o esforço entusiástico e a concentração se tornam cegos. Para Rinchen, é ela que faz com que cada virtude se torne mais forte. Até mesmo para ser generoso, é preciso ser sábio, dizem os especialistas. “O inferno está cheio de boas intenções, por isso é importante sabermos quem e como ajudar para não acabarmos prejudicando quem recebe”, explica Enio Burgos, fundador da Associação Meditar, em São Paulo.


O simples ato de dar dinheiro a uma criança de rua, por exemplo, pode parecer uma boa ação, mas corre o risco de contribuir para o mal, caso ele seja usado para a compra de drogas. Essa visão mais abrangente das causas e consequências de nossos atos é a sabedoria, virtude que pode ser adquirida com estudo, observação da realidade e fortalecimento de um olhar mais profundo sobre a existência humana.


Buda disse: “Muitos problemas do mundo têm raiz na ignorância”. Na visão budista, negar que não fazer o bem aos outros nos prejudica explica, em parte, o caos que vivemos. O inverso também é verdadeiro: o bem que fazemos volta para nós. “Se percebêssemos a vida como uma oportunidade de nos tornarmos pessoas melhores e enxergássemos no outro um igual, não haveria tanto sofrimento”, diz Burgos.


5. Concentração
Você tem o hábito de fazer mil coisas ao mesmo tempo e de estar sempre preocupada com problemas que ainda não aconteceram? Para o budismo, esse comportamento demonstra que sua mente não está tranquila, pois foi dominada pelo medo e pela ansiedade, emoções contrárias à felicidade. A melhor maneira de combater esses sentimentos, diz Rinchen, é se esforçar para manter a atenção no aqui e agora, vivenciando cada momento por vez, com total concentração, sem perder o foco, haja o que houver.


“Precisamos estar mais presentes em cada ato de nossa vida”, afirma o escritor Enio Burgos. “Vejo pais tão apressados ao buscarem os filhos na escola que mal esperam a criança entrar no carro para acelerar. Sabemos que todos têm uma vida corrida, mas, se não temos tempo em quantidade, que possamos dar pelo menos qualidade às pessoas que convivem conosco.” Para aprimorar a concentração, os budistas usam a meditação, que acalma os pensamentos e evita que possíveis problemas, reais ou imaginários, desviem nossa atenção do que realmente importa: o agora.


6. Esforço entusiástico
Todas as conquistas ganham sabor especial quando alcançadas com esforço. Para o budismo, não é somente o bom resultado que nos alegra, mas o caminho que percorremos para consegui-lo. Na visão do autor, ainda que uma pessoa não alcance o que deseja, se tiver se dedicado a isso, ficará feliz no final, pois sabe que fez o seu melhor.Essa junção de prazer e dedicação é o esforço entusiástico, virtude capaz de tornar menos espinhosas até mesmo as tarefas mais difíceis.


Ela pode se manifestar na forma de determinação para enfrentar um obstáculo, caso de um atleta que não poupa esforços para superar seus limites, na satisfação em fazer o que é certo e no trabalho em favor do próximo. Para entender isso, basta lembrarmos de pessoas que, em casos de desastres, largam tudo para socorrer os amigos e vizinhos e sentem-se muito felizes com isso. “Todos nós enfrentamos na vida adversidades as quais não podemos controlar, mas os grandes mestres nos mostraram outra dimensão de felicidade, relacionada ao fato de sermos íntegros o tempo todo, dando nosso melhor em todas as tarefas que fazemos, sejam elas para nós ou para os que convivem conosco”, afirma a lama Tsering.

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