O que é lógico nem sempre é verdadeiro
Em lógica, um argumento pode não ser válido ainda que a conclusão seja verdadeira, e pode ser válido ainda que a conclusão seja falsa. São conceitos confusos, e a gente pode ser enganada facilmente quando a validade de um argumento e a credibilidade não coincidem, sobretudo no caso de argumentos não válidos com conclusões críveis. Os psicólogos cientistas chamam este fenômeno viés de crença (conceito). Por exemplo, consideremos o argumento após o salto:
Todos os psicólogos realizam uma pesquisa empírica.
Cincero do Nassimento realiza uma pesquisa empírica.
Portanto, Cincero do Nassimento é um psicólogo.
Todas as premissas são verdadeiras, a conclusão também pode ser, no entanto, não é um argumento válido. Todos os psicólogos fazem pesquisas empíricas e o mesmo ocorre com Cincero do Nassimento, mas isso não significa necessariamente que Cincero seja um psicólogo.
Para explicar o viés de crença, os cientistas desenvolveram um modelo de processamento seletivo. Segundo este modelo, o razoamento humano implica um componente heurístico superficial e associativo e outro componente analítico e rigorosamente padronizado. Quando avaliamos um argumento, o componente heurístico do processo de razoamento nos anima a aceitar as conclusões que cremos e a recusar as conclusões que não cremos. O componente analítico anima-nos a aceitar ou recusar uma conclusão baseada em um modelo mental do argumento. Ainda que o componente analítico entre em ação, não é infalível, já que nossas funções de processo de razoamento fazem com que seja "satisfatório". Dito de outro modo, quando se trata da lógica, a gente de forma natural aspira ser "suficientemente bom" em vez de perfeito.
Agora, um grupo de cientistas dirigido por Edward Stupple, da Universidade de Derby, Reino Unido, sugere que este modelo deve ser ajustado ao reconhecimento do único processo de razoamento utilizados pelos pensadores de lógica superior. Estes pensadores esquadrinham os problemas a um nível analítico que vai além da mera satisfação e em um estudo publicado no Journal of Cognitive Psychology, Stupple e seus colaboradores assinalaram que o atual modelo de processamento seletivo não explica o que faz que as pessoas prestem atenção especial à análise em alguns problemas sobre os demais.
A equipe de Stupple pediu a um grupo de participantes que completassem um teste de lógica e usaram as pontuações resultantes para dividir os participantes em três grupos: de lógica inferior, um grupo com alto viés de crença; de lógica média, grupo com viés de crença moderada, e lógica superior, grupo de baixo viés de crença. Os grupos de lógica inferior resolveram os problemas mais rapidamente e com menos precisão que os outros dois grupos, e utilizaram o mesmo de tempo para a cada problema, com independência de que a validade e credibilidade entrassem em conflito. O grupo de lógica média resolveu o problema mais lentamente que o grupo inferior e levou mais tempo para responder a problemas não válidos, mas críveis que os demais problemas. Por último, o grupo de lógica superior mostrou uma maior precisão que os outros dois grupos e levou bem mais tempo para responder problemas não válidos, mas críveis que todos os demais.
Os cientistas acreditam que uma sensibilidade para o conflito de lógica-crença e um único estilo (de maior consumo de tempo) para resolver problemas dos pensadores de lógica superior, é em grande parte o responsável pelos tempos de resposta aos argumentos não válidos, mas críveis para todos os grupos. Enquanto a sensibilidade ao conflito de lógica-crença existe para todo mundo, escrevem os cientistas, resulta mais patente nos solucionadores de problemas de lógica superior.
Apesar de que Stupple e sua equipe propõem revisar ligeiramente o modelo de processamento seletivo, para que reflita as respostas dos indivíduos de lógica superior, em geral acham que seus dados indicam que o modelo de processamento seletivo é empiricamente bom, ainda que talvez o tipo de modelo de Wiliam James estaria por trás.
Fonte: Plymouth University.