Aguarde por gentileza.
Isso pode levar alguns minutos...

 

Ressuscitando 1930 - Paul Krugman

Enviado por Habbas Gazan
ressuscitando-1930---paul-krugman

   Outra crise! E agora Obama?

   Para aqueles que conhecem a história da década de 1930, o que está ocorrendo agora é muito familiar. Se alguma das atuais negociações sobre a dívida fracassar, poderemos estar perto de reviver 1931, a bancarrota bancária mundial que alimentou a Grande Depressão. Mas se as negociações tiverem êxito, estaremos prontos para repetir o grande erro de 1937: a volta prematura à contração fiscal que terminou com a recuperação econômica e garantiu que a depressão se prolongasse até que a II Guerra Mundial finalmente proporcionasse o “impulso” que a economia precisava.

   Leia o artigo, na íntegra:

   Esta é uma época interessante, e digo isso no pior sentido da palavra. Agora mesmo estamos vivendo, não uma, mas duas crises iminentes, cada uma delas capaz de provocar um desastre mundial. Nos EUA, os fanáticos de direita do Congresso podem bloquear um necessário aumento do teto da dívida, o que possivelmente provocaria estragos nos mercados financeiros mundiais. Enquanto isso, se o plano que os chefes de Estado europeus acabam de pactuar não conseguir acalmar os mercados, poderemos ter um efeito dominó por todo o sul da Europa, o que também provocaria estragos nos mercados financeiros mundiais.

   Somente podemos esperar que os políticos em Washington e Bruxelas consigam driblar essas ameaças. Mas há um problema: ainda que consigamos evitar uma catástrofe imediata, os acordos que vêm sendo firmados dos dois lados do Atlântico vão piorar a crise econômica com quase toda certeza.

   De fato, os responsáveis políticos parecem decididos a perpetuar o que está sendo chamado de Depressão Menor, o prolongado período de desemprego elevado que começou com a Grande Recessão de 2007-2009 e que continua até o dia de hoje, mais de dois anos depois de que a recessão, supostamente, chegou ao fim.

   Falemos um momento sobre por que nossas economias estão (ainda) tão deprimidas. A grande bolha imobiliária da década passada, que foi um fenômeno tanto estadunidense quanto europeu, esteve acompanhada por um enorme aumento da dívida familiar. Quando a bolha estourou, a construção de residências desabou, assim como o gasto dos consumidores na medida em que as famílias sobrecarregadas de dívidas faziam cortes.

   Ainda assim, tudo poderia ter ido bem se outros importantes atores econômicos tivessem aumentado seu gasto e preenchido o buraco deixado pela crise imobiliária e pelo retrocesso no consumo. Mas ninguém fez isso. As empresas que dispõem de capital não viram motivos para investi-lo em um momento no qual a demanda dos consumidores estava em queda.

   Os governos tampouco fizeram muito para ajudar. Alguns deles – os dos países mais débeis da Europa e os governos estaduais e locais dos EUA – viram-se obrigados a cortar drasticamente os gastos diante da queda da receita. E os comedidos esforços dos governos mais fortes – incluindo aí o plano de estímulo de Obama – apenas conseguiram, no melhor dos casos, compensar essa austeridade forçada.

   De modo que temos hoje economias deprimidas. O que propõem fazer a respeito os responsáveis políticos? Menos que nada. A desaparição do desemprego da retórica política da elite e sua substituição pelo pânico do déficit tem verdadeiramente chamado a atenção. Não é uma resposta à opinião pública. Em uma sondagem recente da CBS News/The New York Times, 53% dos cidadãos mencionava a economia e o emprego como os problemas mais importantes que enfrentamos, enquanto que somente 7% mencionava o déficit. Tampouco é uma resposta à pressão do mercado. As taxas de juro da dívida dos EUA seguem perto de seus mínimos históricos.

   Mas as conversações em Washington e Bruxelas só tratam de corte de gastos públicos (e talvez de alta de impostos, ou seja, revisões). Isso é claramente certo no caso das diversas propostas que estão sendo cogitadas para resolver a crise do teto da dívida nos EUA. Mas é basicamente igual ao que ocorre na Europa.

   Na quinta-feira, os “chefes de Estado e de Governo da zona euro e as instituições da UE” – esta expressão, por si só, dá uma ideia da confusão que se tornou o sistema de governo europeu – publicaram sua grande declaração. Não era tranquilizadora. Para começar, é difícil acreditar que a complexa engenharia financeira que a declaração propõe possa realmente resolver a crise grega, para não falar da crise europeia em geral.

   Mas mesmo que pudesse, o que ocorreria depois? A declaração pede drásticas reduções do déficit “em todos os países salvo naqueles com um programa” que deve entrar em vigor “antes de 2013 o mais tardar”. Dado que esses países “com um programa” se veem obrigados a observar uma estrita austeridade fiscal, isso equivale a um plano para que toda a Europa reduza drasticamente o gasto ao mesmo tempo. E não há nada nos dados europeus que indique que o setor privado esteja disposto a carregar o piano em menos de dois anos.

   Para aqueles que conhecem a história da década de 1930, isso é muito familiar. Se alguma das atuais negociações sobre a dívida fracassar, poderemos estar perto de reviver 1931, a bancarrota bancária mundial que tornou grande a Grande Depressão. Mas se as negociações tiverem êxito, estaremos prontos para repetir o grande erro de 1937: a volta prematura à contração fiscal que terminou com a recuperação econômica e garantiu que a depressão se prolongasse até que a II Guerra Mundial finalmente proporcionasse o impulso que a economia precisava.

   Mencionei que o Banco Central Europeu – ainda que, felizmente, não a Federal Reserve – parece decidido a piorar ainda mais as coisas aumentando as taxas de juros?

   Há uma antiga expressão, atribuída a diferentes pessoas, que sempre me vem à mente quando observo a política pública: “Você não sabe, meu filho, com que pouca sabedoria se governa o mundo”. Agora, essa falta de sabedoria se apresenta plenamente, quando as elites políticas de ambos os lados do Atlântico arruínam a resposta ao trauma econômico fechando os olhos para as lições da história. E a Depressão Menor continua.

   Paul Krugman é professor de Economia em Princeton e Prêmio Nobel 2008.

   Tradução: Katarina Peixoto
   Fonte: Sinpermiso

Comentários

Comente aqui este post!
Clique aqui!

 

Também recomendo

  •    No mês de fevereiro deste ano, o Índice Nikkei, principal indicador da bolsa de valores de Tóquio, composto pelas maiores empresas japonesas, atingiu (e renovou), seu topo histórico, que havia sido formado em 1989. Sim, o Japão demorou 35 anos para voltar a atingir o nível recorde de...   (continua)


  •   A História acontece nas latitudes. Essa foi a máxima do geógrafo e geoestratégico norteamericano Nicholas J. Spykman (1893-1943), usada para concluir seu entendimento de que os movimentos e processos históricos da humanidade se deram nas regiões de clima temperado do planeta, delegando às outras regiões, especialmente aquelas localizadas na faixa central do globo, um papel secundário no protagonismo do mundo.  (continua)


  •    A concentração no setor bancário americano chegou a níveis extremos. Há hoje 33% mais grandes bancos do que em 2000. De acordo com a Federal Deposit Insurance Corporation, foram 182 fusões e 107 consolidações por ano de 2001 a 2011. O resultado é que os cerca de 37 bancos importantes que existiam em 1990 hoje se resumem a quatro grandes: ...   (continua)


  •    O livro “Pai Rico, Pai Pobre”, de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter, é um sucesso de vendas no mundo todo. Muitos o classificam como um livro de “auto-ajuda” e, embora eu mesmo considere desnecessários muitos dos ensinamentos...   (continua)


  •    Digamos que você queira diminuir seus gastos mensais, seja para estancar um desequilíbrio financeiro, seja simplesmente para aumentar a poupança em busca de um desejado objetivo de consumo.   (continua)


  •    Segundo especialista, brasileiros geralmente não entendem a diferença entre poupar e investir, o que é essencial para quem quer ter as finanças saudáveis. Você sabe qual é a diferença entre poupar e investir? Para o planejador financeiro certificado (CFP) Janser Rojo, da Soma Invest, o brasileiro usa esses dois conceitos como se fossem sinônimos, e com isso acaba cometendo grandes erros na sua vida financeira.   (continua)


  •    Enquanto todos ficam de olho na Europa, dados recentes mostram que economia chinesa continua desacelerando. As importações e exportações de produtos processados vem desacelerando bastante, em função da redução da atividade nas principais economias do globo. O consumo de energia desacelerou bastante, a exceção do setor de serviços. Tal consumo indica que PIB possa estar andando a 7 ou 6% aa.   (continua)


  •       Bruno de Pierro, no Brasilianas.org da Agência Dinheiro Vivo
         O crescimento de 7,5% do PIB em 2010, acompanhado da ampliação expressiva do mercado de consumo, que registrou alta de 7% do consumo das famílias no terceiro trimestre daquele ano, confirma o movimento de ascensão da nova classe média, incentivado por políticas que, nos últimos anos, tiraram milhares de famílias da miséria extrema e as possibilitaram acesso ao crédito. Para além do simples consumo, incentivos, como o do Bolsa Família, recuperaram a dignidade de brasileiros.   (continua)


Copyright 2011-2024
Todos os direitos reservados

Até o momento,  1 visitas.
Desenvolvimento: Criação de Sites em Brasília