A maior Fake News da história foi a chamada Doação de Constantino, um documento forjado, que dizia que o Imperador de Roma, Constantino, teria dado ao Papa Silvestre, no ano de 315, partes da Itália, e territórios fora dela, para a Igreja Católica. “Doação” que muito contribuiu para o enorme poder e influência que a igreja de Roma teve durante toda a idade média. Essa mentira durou mais de mil e cem anos, até que Lourenço Valla, em 1440, provou que o documento era falsificado, causando um pandemônio na Igreja.
Um dos perigos que enfrentamos nos dias que correm chama-se Fake News, Notícia Falsa, uma praga que sempre assolou a humanidade, mas que agora é mais frequente, por conta da tecnologia que tornou tudo muito rápido e imediato. Trata-se de uma bomba de potencial devastador, que, em questão de horas, graças às Redes Sociais, pode destruir vidas, lesar nações e empresas, e cometer outras desgraças. O não combate a essa praga é viver sobre o império do mal. Estamos falando da calúnia publicada, dos criminosos que infestam a imprensa e a internet contando histórias inverídicas. Estamos falando de um tipo cruel e covarde, o caluniador: o fabricante de notícias falsas!
E vamos buscar na Bíblia, o livro dos livros, a condenação a essa desgraça em praticamente todos os seus tomos, salmos e profetas. Escolhi apenas uma citação, por ela ser direta, contundente: “Não espalharás notícias falsas, nem dará a mão aos ímpios para seres testemunha de injustiça” - Êxodo – 23.1! Depois do livro de Deus, vamos citar a Bíblia dos Homens, Shakespeare. Diz Hamlet, em uma discussão com Ofélia, sua namorada: “Mesmo que sejas tão pura quanto o gelo, e casta como a neve, não escaparás dos golpes da calúnia”.
Estamos cercados de caluniadores, de canalhas pagos, de desocupados, escondidos em redações, dentro de casa, no trabalho – a pequena Macedônia, da ex-Iugoslávia, é o maior centro de Fake News do mundo –, com um computador na mão produzindo material, textos, vídeos inventando mentiras com vistas a destruir reputações, para obter vantagens. Se fôssemos nomear a quantidade de guerras e conflitos que foram provocados por boatos, mentiras e notícias falsas, precisaríamos de mil páginas para fazê-lo. Vou citar três casos. Na Roma antiga, durante a batalha naval de Actium, em 31 A.C, houve uma guerra de informações, em que Otávio, o futuro imperador Augusto, espalhou que Marco Antônio, então amante de Cleópatra, a rainha do Egito, que estava em guerra com Roma, iria mudar a capital do Império para o Egito; inventaram também que Cleópatra tinha se suicidado. Isso fez com que Marco Antônio também se matasse. Foi nessa batalha que o conceito de ocidente e oriente se firmou.
Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), durante a invasão da Bélgica, os alemães espalharam um boato de que mulheres franco-atiradoras, matavam os militares alemães, escondidas em cima de árvores. A partir daí os alemães passaram a massacrar a população civil belga. Hoje quem for a Bélgica, vai encontrar o país crivado de cruzes, com a seguinte inscrição “Aqui em 1915,1918 os alemães massacraram 1, 2, 300, 500 pessoas”. Na Segunda Guerra Mundial, Joseph Goebels, ministro da propaganda nazista, o maior criador de Fake News da história, inventou que os poloneses tinham matado os guardas da fronteira alemã. Na verdade, os alemães mataram presidiários e os vestiram com roupas alemãs. Esse Fake deu início à Segunda Guerra.
O poder maléfico das Fake News ficou evidente nas últimas eleições presidenciais americanas, quando o fanfarrão, Donald Trump, construiu um cabedal de mentiras: E-mails falsos, uso do FBI, CIA, relação com a Rússia e outras canalhices, e assim destruiu Hillary Clinton. As investigações continuam e muita gente da assessoria de Trump está presa.
A humanidade está em guerra contra as Fake News. O Facebook, o maior catalisador de Fake News do planeta – e responsável pela eleição de Trump – enfrentou uma CPI no Senado americano, e Mark Zuckerberg teve que se retratar, e mudar sua política. Resultado, o facebook minguou, diminuiu de tamanho. Mas a mais perigosa fonte de Fake News continua sendo o Whats App, a endiabrada Rede que não deixa mais ninguém dormir, tornando a humanidade ainda mais neurótica e agoniada. Essa Rede vai ser muito difícil de controlar! No Brasil acendeu a luz amarela, e a vermelha também. Como estamos em ano eleitoral, os tribunais só falam nisso: no crime que é a Fake News. Sua criminalização foi decretada e a caça aos caluniadores já começou.
“Ninguém escapa aos golpes de uma língua caluniadora” diz Shakespeare. Ele mesmo, três séculos depois, tornou-se vítima de Fake News! Invejosos espalharam que ele não escreveu sua obra, e sim um aristocrata: um conde, uma rainha, um duque etc. Portanto, gente de bem, está aberta a temporada de caça aos caluniadores: cadeia neles! Esse é nosso grito de guerra!
Theófilo Silva é escritor Shakesperiano do blog Shakespeare Indignado.