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400 anos sem Cervantes e Shakespeare - Rodrigo Casarin

Enviado por Gilberto Godoy
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   Miguel de Cervantes e Willian Shakespeare ajudaram a delinear a arte que temos hoje, cada um ao seu modo. Viveram ao mesmo tempo e, há 400 anos, morreram com poucos dias de diferença, ambos em 1616.

   Acredita-se que Cervantes tenha sido vitimado pela cirrose, aos 68 anos, no dia 22 de abril do calendário gregoriano --o mesmo que temos em vigor, hoje, no Brasil. Mas, como era praxe na época, o registro de óbito do escritor espanhol foi feito um dia depois de sua morte, quando foi sepultado em 23 de abril.

   Já Shakespeare deixou o mundo no dia 23 de abril, aos 52 anos, e até hoje não se sabe exatamente as causas. Mas um detalhe cerceia a história do autor inglês: naquela época, o calendário em voga na Inglaterra era o juliano. Se utilizada a mesma métrica usada para Cervantes, a data da morte de Shakespeare passaria a corresponder ao dia 3 de maio, um intervalo de 11 dias.

   Por terem vividos na mesma época, Cervantes e Shakespeare apresentam algumas características em comum, como o caráter renascentista, a valorização da estética e da capacidade humana de pensar e construir conhecimentos, contrapondo-se a preceitos em voga na Idade Média --ou Idade das Trevas, uma referência ao período obscuro--, que havia chegado ao fim por volta do final do século 15.

   Mas o mais provável é que eles jamais tenham estado juntos, apesar de algumas linhas de pesquisas cogitarem que o inglês tenha conhecido a Espanha, onde poderia ter se encontrado com o autor de "Dom Quixote". Uma hipótese que, hoje, não passa de especulação. Fato é que o único cruzamento existente entre os dois é Cardenio, personagem criado por Cervantes em "Dom Quixote" e que deu nome a uma das peças de Shakespeare.

   Fundador do romance moderno

   Com "Dom Quixote", Cervantes criou um romance que ajudou a forjar o próprio gênero narrativo e entregou para a literatura um dos personagens mais complexos: o protagonista Engenhoso Fidalgo da Mancha, ou apenas Dom Quixote. "Cervantes continua a conversar com leitores e escritores contemporâneos", diz Sergio Molina, tradutor da edição do clássico publicada pela Editora 34. "Cada época aderiu a um aspecto na leitura de 'Dom Quixote'. A nossa tem especial predileção pelos jogos metalinguísticos e seus paradoxos, e pelo entrecruzamento de narradores".

   Para Molina, o espanhol deixou um legado crescente até hoje. "Não é à toa que existe o chamado 'cervantismo' como uma área de pesquisa produtiva, e que abrange não só a crítica literária, mas também a história, a filosofia, a teoria da linguagem e afins. Se tivermos que resumir em uma frase, Cervantes é, se não o fundador do romance moderno, um escritor que assenta as bases da literatura moderna. Seu legado permanece ativo na literatura que se produz hoje, em todo o mundo".

   Forjador dos sentimentos

   Do outro lado do cervantismo, há uma forte influência shakesperiana. Escritora e estudiosa da obra de Sheakeaspere, Nara Vidal, brasileira radicada em Londres, acredita que "quem quer que sejamos, estamos espelhados em alguma obra de Shakespeare, ainda que nem sempre de maneira evidente". Na capital inglesa, ela trabalha títulos do escritor em escolas onde atua como voluntária de projetos de incentivo à leitura.

   Nara lembra da tese de que o escritor seria o responsável por forjar o homem moderno graças aos seus personagens cheios de mazelas e virtudes, tomados pela vaidade, ambição, loucuras, ciúmes e inveja, mas também pelo amor, compaixão e amizade. Um exemplo é a força feminina que envolve "Romeu e Julieta".

   "É uma peça que fortalece o papel da mulher, considerando o período histórico no qual é passado. Julieta é quem faz todos os planos de amor, casamento, fuga. Ela é a força que rege todas as ações da tragédia. É uma obra que dá à mulher escolhas, reflexões, ações, decisões. Isso é importante especialmente se considerarmos o momento em que foi escrito", explica a escritora.

   E qual é a importância do escritor inglês nos dias de hoje? "Em entrevista concedida pelo CEO do The Globe, Neil Constable, perguntei sobre isso, e ele disse que questionar a relevância de Shakespeare é a mesma coisa que perguntar sobre a importância do amor, da guerra, das emoções humanas nas artes. Não tenho como discordar dele. Sabemos que a originalidade de Shakespeare não foi seu ponto mais forte, mas o crédito é dele em apontar, discutir, fazer a gente refletir sobre nossas maiores qualidades e nossos mais tenebrosos defeitos".

   "Os caras"

   Diante de dois gigantes, podemos afirmar quem foi maior? Impossível, garantem os especialistas. "Não acho que seja possível qualificar comparativamente os dois, mesmo que um tenha escrito um dos maiores romances já vistos e o outro, algumas das maiores peças de teatro já concebidas. Sorte a nossa pelo que deixaram", argumenta Nara.

   "Essa comparação é um clichê da crítica, a meu ver da má crítica, que se pauta pelo fetiche do cânone como um ranking de importância. Ambos são escritores fundamentais, não apenas para as literaturas inglesa e espanhola, mas para a literatura mundial. São pilares da literatura moderna", explica Molina. "Em termos mais populares e atuais: são 'os caras'", crava o tradutor.

   Fonte: UOL Entretenimento

   Nota: para este blog não há compração entre a grandeza dos dois. O Bardo é infinitamente maior, como diria o amigo Theófilo Silva.

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